A fitorremediação, técnica que utiliza espécies vegetais para a recuperação de solos degradados por metais pesados ou pela poluição, tem alcançado resultados promissores no Brasil. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) começam a empregar o método – desenvolvido na Europa e nos Estados Unidos – em áreas contaminadas por resíduos industriais na cidade de Sorocaba (SP) e já observam uma recuperação gradual de sua capacidade de cultivo. A pesquisa, desenvolvida pelo biólogo Fábio Moreno e pelo geólogo Joel Sígolo, do Instituto de Geociências da USP, tem como objetivo aplicar na cidade paulista a fitoestabilização, técnica de fitorremediação específica para tratar áreas contaminadas por metais pesados. “Não pretendemos remover o cromo e o níquel, os metais tóxicos presentes no solo da área pesquisada em Sorocaba, mas torná-los inertes no ambiente”, explica Moreno. Para isso, os pesquisadores investigam as propriedades de duas plantas, a mostarda (Brassica sp.) e o girassol (Helianthus annuss). “Essas espécies foram escolhidas por serem modelos usados com freqüência em estudos de fitorremediação, pois produzem biomassa abundante e acumulam metais de forma mais acentuada do que outras”, justifica Moreno.
Capacidade de cultivo aumentada
O solo contaminado tratado com turfa (à direita) teve sua toxicidade reduzida, o que permitiu que as plantas (no caso, mostardas) se desenvolvessem mais do que as cultivadas no solo sem tratamento (à esquerda) (foto: Fábio Moreno).Antes de plantar a mostarda e o girassol, os pesquisadores optaram por tratar uma parte da área estudada com turfa, um material de origem vegetal parcialmente decomposto, capaz de reduzir a toxicidade dos poluentes. “No solo tratado com turfa, a produção de biomassa vegetal (mostarda e girassol) foi até cinco vezes superior à obtida na área que não recebeu o material”, conta o biólogo. Esse aumento na capacidade de cultivo favorece a ação das plantas na recuperação do solo. O pesquisador explica que essas plantas reduzem os processos erosivos e a dispersão de metais pelo vento ou pela água da chuva que penetra no solo. Além disso, o mecanismo usado pelos vegetais para absorver água através das raízes e liberá-la pela transpiração faz com que os metais fiquem retidos na rizosfera (região do solo influenciada pelas raízes), o que diminui o fluxo dessas partículas em direção ao substrato rochoso e aos lençóis freáticos.
O solo contaminado tratado com turfa (à direita) teve sua toxicidade reduzida, o que permitiu que as plantas (no caso, mostardas) se desenvolvessem mais do que as cultivadas no solo sem tratamento (à esquerda) (foto: Fábio Moreno).Antes de plantar a mostarda e o girassol, os pesquisadores optaram por tratar uma parte da área estudada com turfa, um material de origem vegetal parcialmente decomposto, capaz de reduzir a toxicidade dos poluentes. “No solo tratado com turfa, a produção de biomassa vegetal (mostarda e girassol) foi até cinco vezes superior à obtida na área que não recebeu o material”, conta o biólogo. Esse aumento na capacidade de cultivo favorece a ação das plantas na recuperação do solo. O pesquisador explica que essas plantas reduzem os processos erosivos e a dispersão de metais pelo vento ou pela água da chuva que penetra no solo. Além disso, o mecanismo usado pelos vegetais para absorver água através das raízes e liberá-la pela transpiração faz com que os metais fiquem retidos na rizosfera (região do solo influenciada pelas raízes), o que diminui o fluxo dessas partículas em direção ao substrato rochoso e aos lençóis freáticos.
Como esses metais ficam retidos na rizosfera e não são transferidos para os tecidos comestíveis do vegetal, eles não entram na cadeia alimentar. “O solo poluído finalmente estará fitoestabilizado quando cessar o escape desses elementos para fora de suas fronteiras, seja pela sua dispersão na terra, na água ou no ar ou pela cadeia alimentar”, esclarece Moreno. Nas próximas fases da pesquisa, a equipe busca comprovar se o cromo e o níquel foram de fato estabilizados na área. Os pesquisadores também pretendem fazer um levantamento dos vegetais encontrados em outras áreas com alta concentração de metais no solo, para elaborar um banco genético e um catálogo de espécies com potencial fitorremediador. “Futuramente, essas plantas poderão ser usadas na descontaminação e recuperação de solos de outras regiões do Brasil”, avalia. Opção adequada para o Brasil Para o pesquisador, a técnica pode ser uma solução economicamente viável para recuperar extensas áreas de terras contaminadas que se encontram abandonadas ou subutilizadas no Brasil, como as de mineração artesanal do ouro no Norte e Centro-oeste. Ele ressalta que, devido à sua diversidade florística, o país pode ter várias espécies nativas com potencial fitorremediador ainda desconhecido. A fitorremediação também pode ser empregada para intensificar a ação de microrganismos na degradação de compostos orgânicos poluentes. Nesse caso, são usadas plantas com raízes densas e profundas (como as gramíneas), que produzem e liberam ao mesmo tempo grande quantidade de nutrientes. Essas espécies apresentam uma rizosfera com alta capacidade de colonização por microrganismos – os maiores responsáveis pela degradação dos compostos orgânicos, que são transformados em compostos menos tóxicos ou até em gás carbônico e água. Moreno ressalta que a fitorremediação é uma técnica muito vantajosa. “Além de apresentar custo reduzido em comparação a outros métodos (como a escavação e a remoção do solo), possibilita a comercialização da madeira produzida na área recuperada, sua transformação em biocombustível e a geração de créditos de carbono”, diz o biólogo. “Assim, é possível promover a preservação ambiental aliada ao desenvolvimento social, energético e econômico”, avalia.
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